Enquanto isso, na sala de aula...

Queridas leitoras, queridos leitores... Depois de algum tempo volto aqui para relatar mais uma experiência, mais uma daquelas que gosto de compartilhar, mais uma daquelas que considero dignas de uma boa reflexão. Não se passou em uma aula de Direito - foi durante uma aula de Economia para alunos de Direito, disciplina que cursei há dois anos e da qual, durante um horário vago, fui participar. Falava-se de Adam Smith, do liberalismo, do Estado e de sua interferência ou ausência nas relações econômicas... Enfim, era uma aula de Economia Política, onde tudo acontecia naturalmente, até o seguinte comentário: "professor, e essas bolsas que o governo dá? olha, eu acho um absurdo, eu não consigo uma empregada doméstica, pq ninguém quer trabalhar, só querem receber a bolsa..."
A frase desencadeou alguns minutos de discussão sobre o assunto. Discussão boa, daquelas em que a gente percebe o quanto é importante uma visão de mundo sensibilizada com as questões sociais e atenta às questões atuais. Resposta do professor aos vários comentários: "há pessoas desonestas, que fingem para coneguir a ajuda de custo de forma ilícita... mas não se pode negar a importância do projeto, afinal, ele é voltado a quem não tem o que comer e, só pelo fato de tirar da total miséria quem não tem o que comer, já vale a pena..."
Cada um sabe onde lhe aperta o calo, não é mesmo? Enquanto uns precisam de ajuda do Estado para comprar comida, outros reclamam pela falta de quem lhes faça a comida. Mas, entre uma carência e outra, há uma que se passa numa posição bem confortável, concordam?
É bom lembrar que programas como o Bolsa Família devem ser vistos como medidas de urgência, afinal, quem está na miséria agora, não pode esperar. Sendo medidas de urgência, devem ser acompanhados de políticas de Estado que tenham como objetivo a erradicação da miséria (erradicação, sim!), e de outros programas - de emprego e de educação - que, em prazos diferentes, poderão ter bons resultados. Exemplo? Quem é bolsista do Prouni hoje, terá a chance de ter um bom emprego amanhã, poderá fazer pós-graduação, se qualificar sempre mais e poderá prover o sustento para si e para a família, que não precisará do Bolsa Família.
Para enxergar a importância de certas ações é preciso olhar muito além do próprio umbigo. É preciso ver que quando o mundo em que vivemos melhora, nós melhoramos também. Quando nossa casa está arrumada, é mais fácil viver nela. Aliás, é preciso lembrar que, na essência, todo mundo é igual e deve ter oportunidades igualmente justas. É preciso entender que, embora o conceito de justiça seja inalcançável, fazer, possibilitar ou ao menos apoiar uma ação justa é plenamente possível.