A selva de pedra x a natureza boa que ainda existe no ser humano (Inspirada em experiência de Auana Maroni)




Os dias de hoje – ao pensar nisso, imediatamente me vem à mente um misto de buzinas, relógios, computadores e depressão. Olhando para trás através dos livros de história, a coisa piora um pouco: fomos capazes de, em pleno século XX (um dia desses!), fazer 2 guerras mundiais e outras coisitas... Hoje achamos normal a corrupção dos políticos e nos chocamos com a legalidade da união estável homoafetiva... Ah, os dias de hoje... Foi nesse contexto (um dia desses!) que se passou a história que vou contar. Fato. Fato que me fez tão feliz, que reservei um espaço no Bom Dia Dona Justiça, afinal, ser feliz e acreditar na bondade do ser humano é um direito que temos.

Após uma jornada de trabalho fora dos padrões, Auana resolveu que fora dos padrões iria continuar, ao menos durante o feriadão. De Marabá a Brasília, de Brasília à Chapada dos Veadeiros, de onde foi parar na Vila de São Jorge, sempre em sua própria e única companhia.  

Chegar sozinha em lugar desconhecido em pleno feriadão... Ela estava pedindo pra ficar na rua, hein? Onde encontraria hotel, pousada, albergue, enfim, um teto sob o qual pudesse se instalar? Quando Auana me respondeu essa pergunta, percebi toda a beleza que pode habitar o coração do ser humano. Não apenas um teto, mas companhias e possibilidades diversas, até segurança – sozinha e longe de casa – Auana encontrou. Ela foi, no sentido mais puro da palavra, acolhida.

A programação seguiu normalmente, sob orientações e sugestões diversas, de quem não a conhecia, mas a tratava muito bem. O único momento que lhe tirou a plenitude da paz foi quando, no dia de partir, Auana se viu sozinha em um bar, na iminência da madrugada, sem saber se o ônibus que lhe tiraria dali sairia mesmo da rodoviária – acho que era um sinal para ela ficar por lá. Falando em sinais, qual não foi minha gargalhada ao descobrir que, em meio à situação tensa que se passava, uma pessoa se aproximou, tentando tranquiliza-la, mas o medo falou mais alto, a ponto de tal pessoa dizer “só não me ofereço pra te acompanhar à rodoviária, porque to vendo que você ta assustada mesmo...” Pois bem, outras pessoas chegaram e ela foi levada à tal rodoviária, outras pessoas passaram lá para conferir se ela estava bem... E qual não foi minha surpresa ao constatar que, na Vila São Jorge, no dia de São Jorge, aquela primeira pessoa que se aproximou de Auana na rodoviária se chamava... Jorge. Auana esteve diante de toda a energia que simboliza a figura de Ogum. Essa foi a ironia da história, que tanto me fez rir e pensar que a vida de vez em quando faz umas piadas com a gente.

Fato é que nossa guerreia está em Natal, está bem, linda como sempre. A energia de Ogum a acompanha, hoje ainda mais. E ela soube relatar – melhor do que esta que vos escreve – com detalhes todas as dimensões da palavra gentileza, que ela aprendeu em Vila de São Jorge. Se você é uma das pessoas que contribuiram para esse relato, sugiro que ministre um curso de gentileza, pois o mundo está precisando.



2 comentários:

Anônimo disse...

Obrigada por escrever um pouco do que eu não sou capaz de transformar em letras... Amei!
Ass: Auana

Marcia disse...

Hahahahahahahaha....ARRASA SEMPRE NOS TEXTOS, AMIGA!

Histórias como a de Auana sempre me incentivam ainda mais sair por aí "sem lenço e sem documento" como acho que todas nós gostamos e temos que experimentar uma experiência antropológica como essa!

Marcia

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